segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Sonho..

Me sentia livre. Voava por ai sem compromisso.. sem horário.. sem volta. Podia imaginar o meu mundo em minha visão... em meu tocar.. em meu sentir. Fascínio poder ser única.. ter existência própria. Nada me importava a não ser o meu lugar... o que eu ocupava... e que me pertencia. Só me devia o meu ser. Me importava em ser feliz. Era tão bom estar com alguém agradável ao seu lado.. fazendo com que não permanecesse o vazio de antes. Uma solidão indescritível... calando minhas alegrias e minhas conquistas. Eu sabia quem eu era.. me conhecia por dentro. Na verdade.. quem poderia me conhecer de fato era eu mesma. Sei que é utópico... mas em meus pensamentos isso tinha um significado contrário e distinto. O foco era eu ser quem sou. Não é pecado viver livremente... tocar e sentir a natureza... ver de perto o que é belo.... e plenamente vivo. Nada mais me machucava... eu sabia que poderia viver intensamente.

Mayara

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Confissão

O Tempo passou! Dois meses para ser mais precisa. Abandonaram-me! Eu sei, é um absurdo. Fiquei no meio de uma encruzilhada, melhor lugar para ser chutada. Porém de nenhuma direção veio uma caridosa alma para tirar-me da inércia. Por dias observei o vento movendo a poeira, que alegre voava no céu azul. A inveja me acometeu. Por que fui 'nascer' tão pesada, tão imóvel, tão bruta? O vento apenas me fragmenta, eu quero voar!

Hoje, para minha felicidade, um menino de pés sujos e descalços mirou-me, pegou-me delicadamente. Colocou-me numa borracha gasta de estilingue. Vi o céu, azul, convidativo. Voei! Nunca senti a liberdade tão próxima. Após o inicial êxtase, deparei-me com um pássaro azul. Já ele não me notava. Logo percebi o desfecho trágico, para ele, claro! 

Nosso choque foi violento. Caímos no chão abraçados. Chega a ser engraçado, a felicidade individual muitas vezes provem da desgraça alheia. O menino, feliz, seguiu seu rumo. Eu, feliz, alcei voo. E aquele pássaro, o que ganhou? 

Ganhou uma confissão...
"Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro – vinha azul e doido -
que se esfacelou"¹
... em mim.


1 - Trecho extraído de Confissão, Carlos Drummond de Andrade

sábado, 10 de julho de 2010

Não era Eu

O Sol escondia-se no horizonte, e seus últimos raios batiam no meu corpo ainda úmido. Sensação, simultaneamente, agradável e estranha, a água atravessa-me pelos poros. Nesses momentos, me sinto viva. [Aliás, quando você senti-se vivo? - eu e meus diálogos. Voltemos à narrativa!]

Não me lembro nem o dia, muito menos a hora exata. O que me lembro é do entardecer, de um banco e de um par de olhos úmidos.

O Entardecer. O céu era límpido, não era azul, nem laranja ou vermelho, mas a mistura resultante fornecia-me uma paz indescritível. Em uma razoável frequência, pássaros quebravam a tal paz com suas asas e bicos, porém a beleza permanecia. O vento, quando vinha ao meu encontro, balançava-me da mesma forma que uma mãe nina seu filho. Isso também me fazia sentir viva.

O Banco. Era singelo. Cimento e granito. [Sim, um parente próximo.] Exacerbadamente reto e rígido. Se me permitir uma analogia, a usarei agora. Aquele banco era como um senhor moldado pela sociedade para ser reto e rígido, e por mais que esse, no seu íntimo, quisesse ser mais maleável e curvilíneo, não poderia, pois sua concepção é a de que nasceu para ser reto e rígido. Dessa maneira, o vento que em mim parecia um carinho materno, nele chegava como um tapa de um algoz. Mas ele continuava, aparentemente, impassível, afinal, era reto e rígido.

E por fim, os olhos. Eram castanhos. Não os percebi de imediato. Para ser sincera, o Entardecer e o Banco traziam-me maior presença de vida do que eles. Mexiam-se às vezes, culpa do vento que os faziam piscar. Mas só. A princípio cheguei a ter esperanças que olhavam para mim. Todavia, não focalizavam nada externo. Estavam úmidos, mas não choravam. Provavelmente cansados de tal ato. Para onde eles olhavam então? Uma foto ligeiramente amassada nas mãos parecia dar-me uma pista. Refletindo, cheguei a uma conclusão aceitável. Aqueles olhos tinham, não uma pedra, mas uma lembrança no meio de seu caminho.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Não se acomode ao que incomoda

De fato sou uma Pedra, e sendo uma não me limito a preocupações mundanas fúteis, mesmo que elas me intriguem com tanta estranheza. Já cheguei a me perguntar a causa de vocês humanos, com uma certa experiência de vida, serem tão estragados e ocos por dentro. Percebo que junto com os anos seus medos também se acumulam, assim como suas preocupações, descoragens e decepções 'circunlóquianas'. Ah! E claro suas rugas na testa! O correto -segundo palavras de um de sua espécie conhecido como Darwin- não seria "evoluir"? Onde está tal evolução?

Talvez seja mesmo apenas no ramo genético, pois vocês continuam os mesmos se escondendo em suas cavernas emocionais chamadas de -lembranças- simultâneamente correndo de seus animais predadores já citados acima e finalmente morrendo a margem de si, sem desenvolver qualquer tipo de intelecto que possa ser aplicado a certa fase difícil na qual entro em seu caminho. Será que sou tão imprescindível assim em suas vidas? Não sei se fico grato, ou não. Onde fica a parte bonita da história onde você me encara e me atira para fora de suas futuras pegadas?

Estou aqui há milhares de anos, e além de me moldar fisicamente com os chutes de cada um de vocês, posso dizer que também sei adaptar minhas emoções e sentimentos a várias ocasiões. Seria eu então superior você? Essa pergunta, você me responde, e dá próxima quem sabe eu não te conte uma história.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

To be a Rock 'n' not to Roll


Quem disse que uma Pedra não pode refletir ouvindo boa música? Ao lado, uma ótima opção e bem coerente com a linha de pensamento que pretendo desenvolver aqui. Portanto, o que está esperando? Aperte o "play" e continuemos nosso "diálogo".

Por vezes me perguntei, por que seria melhor ser uma pedra e não rolar? Peguemos, inicialmente, as vantagens de ser uma Pedra. Compacta e forte. Você, por acaso, já viu uma Pedra preocupada com contas no final do mês? Com seu relacionamento com outras Pedras? Com a forma que é vista perante à sociedade? Ou em palavras mais precisas, já viu uma Pedra anular sua própria personalidade para ser aceita e "amada" por outras? Bom, eu não.

Mas não nos limitemos a isso, vamos aos defeitos. Inertes e passivas a forças externas. Sim, nesse ponto parecem até com alguns humanos. Parecem? Sim, sou diferente. I like to roll, my Dear. Cada chute que recebo, me faz rodar, assimilar a poeira do trajeto, "crescer" devido essa incorporação. Enquanto o ser que me chuta, simplesmente, segue seu monótono percurso, sem ganhar ou perder nada. Eu, após rolar e rolar, paro no meio de outros caminhos, à espera de outros chutes.

domingo, 27 de junho de 2010

A Pedra Resolve Falar

Um homem, num belo dia, colocou-me no meio de seu caminho. E eu, lá, fiquei a espiá-lo. Ombros caídos, olhar cansado, temeroso, confuso. Sim, achei-o um coitado. Mas o que será que o atormentava tanto?

O coitado gradativamente foi perdendo seu ar de submissão e adquirindo a raiva de um ser que se sente lesado. De inicio murmurrava palavras incompressíveis, desconectadas. Porém, algo eu ouvi com extrema clareza. "Maldita Pedra". Ah como os humanos são rídiculos. O que eu, um mineral inerte, posso ter feito a tão infame criatura?

Comecei um retrocesso de minha vivência 'rochística', tentando encontrar qualquer situação que poderia tê-lo afetado. Não obstante, não havia nada. Aquele mentecapto, como já disse, me carregou até o meio da estrada, e agora esbravejava como se fosse eu a culpada de sua ignorância. Dessa forma:

"Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha um homem"

E sobre esse homem e tantos outros semelhantes, pretendo discorrer minhas análises.